sexta-feira, 11 de julho de 2008

José Fanha



Nós nascemos para ter asas meus amigos.

Não se esqueçam de escrever por dentro do peito: nós nascemos para ter asas.

No entanto, em épocas remotas vieram com dedos pesados de ferrugem para gastar as nossas asas assim como se gastam tostões.

Cortaram-nos as asas como se fôssemos apenas operários obedientes, estudantes atenciosos, leitores ingénuos de notícias sensacionais, gente pouca, pouca e seca.

Apesar disso, sábios, estudiosos do arco-íris e de coisas transparentes, afirmam que as asas dos homens crescem mesmo depois de cortadas, e, novamente cortadas de novo voltam a ser.

Aceitemos essa hipótese, apesar de não termos dela qualquer confirmação prática.

Por hoje é tudo. Abram as janelas. Podem sair.


José Fanha, 1985, Cartas de Marear

3 comentários:

Anónimo disse...

"Por hoje é tudo. Abram as janelas. Podem sair."

Porque "nós nascemos para ter asas".

Bonito :)

Beijinho,
Rita

Ana disse...

Liberdade... há coisa mais importante que a nossa liberdade?

Muito bonito o texto! Boa escolha!

mariam [Maria Martins] disse...

José Fanha...excelente escolha. Parabéns.

D'Ele ando a "saborear" «Tempo Azul» (poesia)

um sorriso :)


PS. voltarei a esta sua "casinha" com mais tempo...