segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Boas-Vindas ao Outono...

Emilie Simon

"Fleur de Saison"

Porque Novembro é o meu mês.
O Outono veste a natureza com as suas belas cores, tons contrastantes em castanho, amarelo, laranja, e é fabulosa a intensidade da luz nesta estação.
Este ambiente nostálgico,o escuro surgindo mais cedo, entristece-me um pouco, mas acaba por me inspirar nesta aventura da escrita.
Que me estimula sem nunca me cansar, dá-me vontade de caçar outras emoções, partir para novas descobertas. Deslumbro-me, entusiasmo-me, todos os dias como se fosse a primeira vez!...
Aqui vos deixo o “meu” Adeus à época estival, nas palavras de Ruy Belo, um dos meus Poetas de eleição.

Espaço para uma canção

As noites desmedidas de Novembro
abertas sobre a queixa rígida das árvores
Inauguram o Outono sobre a terra
Adeus ó meu Verão impiedoso
ó limpidez da água sobre as pedras
ó inúmeros galos da manhã
ó tempestade agreste de alegria
É o país da música é a fome da noite
impossível estar só razoável rapaz
meu príncipe da própria juventude
Nos cabelos de vento do mar morto do destino
fundo antigo de água conchas e areias
no centro solitário deste solo
ante a solenidade sensual do sono
eu olho os paralelipípedos do nada
não me detenho nos umbrais das trevas
caminho numa mesma direcção
Onde o cheiro da esteva sobre a vila
o trigo para o campo do olhar
as estrelas abertas pelo céu?
Ponho os pés sobre as folhas no asfalto
espero por Dezembro mês para morrer
evoco a luz discreta das doenças de outrora
Aqui os cisnes são da cor da cinza
e o vento devasta o país dos pauis
quando perto do chão a última cigarra
anuncia a definitiva solidão
Que é momentos puros de outra vida
da luminosa luz como ferro em fusão
do silêncio como a nossa melhor obra?
Eu te saúdo Outono punitivo
sinal desse silêncio que me não permite
desistir de cantar enquanto vivo
Que o vento a névoa a folha e sobretudo o chão
caibam dentro do espaço da minha canção


Ruy Belo
Transporte no Tempo

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Para quem me cativou...

"O Principezinho"



Antoine de Saint-Exupéry

Just when I needed you most



Randy Vanwarmer

Ter um Amigo é bom, mas ser amigo de alguém é ainda melhor... Nenhum caminho é longo demais se estamos acompanhados.
Este “Post” é dedicado a todos os meus Amigos, seres únicos e muito, muito especiais. Por isso, lembrei-me do livro “O Principezinho”, que decerto conhecem, e da conversa entre ele e a raposa, para ilustrar a Amizade. Amigos próximos ou mais distantes, não importa. Os que me enviam e-mails, ou sms que me fazem sorrir e enchem o coração. Todos aqueles que passam ou passaram por este Blog, mesmo sem deixar um comentário. É claro que as palavras ajudam a alegrar os meus dias, e o facto de sentir que estão comigo dá-me forças para continuar, e sentir que vale a pena. Muito obrigada. Cada bocadinho de mim, da pessoa que eu sou, também é vosso.

Como estou a falar da Amizade, faço aqui um pequenino aparte para prestar homenagem a uma Grande Amiga que perdi (não era uma bloguista). Alguém que me sinto privilegiada só por ter conhecido. Mesmo que não fôssemos muito próximas, a simples presença dela encheu-me de Luz. Sinto-me triste, mas quero recorda-la pela sua alegria de viver, no gosto pela dança que nos uniu. Proporcionou-me um dos melhores dias da minha vida, sem o saber. A canção “Just when I needed you most”, também é para ela.

Meus queridos, um beijo imenso e mil e um abraços carinhosos.
Fiquem bem, um excelente início de semana, sempre com uma atitude positiva…
Um sorriso :)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Desencontros...

GNR - "Asas"


Os seus dedos estavam trémulos. Só queria perder o avião e ficar em terra. Precisava de um pretexto qualquer. Um atraso não seria mau. Da janela do táxi amarelo vislumbrou o anoitecer, sereno, com raras estrelas. Sem o vento a perturbar. Relembrou-se dela, das gargalhadas. A sua imagem de marca. Espontâneas, quase indecentes. Deixavam-no desconcertado. Desejava tê-la nos braços, agora, naquele momento.
Queria tanto que a Lígia lhe tivesse pedido para ficar, uma única vez teria sido suficiente. Pareceu aceitar o facto com indiferença a roçar a frieza. Só lhe disse “Não deixes escapar esta oportunidade. Agarra-a!”. Os olhos verdes dela a transparecerem certezas. Vítor ficou confuso, e ainda procurou sinais de um sim que diz não no seu rosto, mas não os conseguiu encontrar. Também por isso, não quis despedidas. Não as tolerava, assustavam-no. Sentia-se de rastros. Acabava quase sempre por não conseguir partir. E, não era isso que queria?
Azar, não havia trânsito. Chegou a horas. “Também posso fingir que perdi o bilhete”. Ou, por distracção, deixei-o na gaveta da cómoda. Imaginou-a entre a multidão. De branco, em sinal de harmonia e paz. Quase sentia o aroma do seu perfume. De súbito, lembrou-se que o gato não tinha regressado a casa ontem à noite. Quando voltasse, ele não estaria lá para o receber, alimenta-lo. Poderia voltar atrás por causa disso.
Estava quase, quase a decidir entrar no avião, a cabeça semeada de dúvidas. Um velho amigo dos tempos de escola, a aparecer de repente no aeroporto, poderia salvá-lo. Fazê-lo atrasar-se com conversa, recordações, “implorar” para tomarem um café. Não adianta. Não conseguia partir, fez o percurso inverso. Ligou-lhe para o telemóvel. Estava desligado. Ela telefonou-lhe, mais tarde, e ficou a saber que tinha apanhado o voo que ele “perdeu”.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ousadias numa Carta de Amor..

Sérgio Godinho - "Às vezes o Amor"


Lá fora, a janela mostra-nos a neblina, desenhando um tom misterioso na paisagem. Sinais de um amanhecer imprevisível.
Cá dentro, no quarto, escondida pelo aconchego do edredão, o clima parece ameno. Voltou a relê-la, a inalar-lhe o perfume, enquanto trincava um “after eight”. Repetiu o mesmo gesto, vezes sem conta. Achava-a patética, pirosa, fora de moda. Tem tudo a ver com o que pretende transmitir. Não é possível acrescentar uma única vírgula ou suspiro.
Vestígios dele? Depois dos dois olhares se terem cruzado à entrada do liceu, ficou desarrumada por dentro. Sentia-se tonta, perdida, sem rumo, e adorava aquele estado de embriaguez, longe dela própria. Tornou-se uma espectadora atenta dos seus pequenos gestos quotidianos. De longe, tentava adivinhar-lhe os pensamentos. Visitar os lugares secretos. Ficou amiga do seu melhor amigo só para chegar mais perto. Não queria ser previsível e enviar-lhe um e-mail ou sms. Isso estava ao alcance do “comum dos mortais". Desejava ir mais longe e surpreendê-lo em formato cor-de-rosa. Numa folha de papel escrita à mão. Poderia achá-la louca, imbecil, mas de certeza que não conseguiria ficar indiferente. Ganhava coragem para concretizar o seu objectivo e coloca-la no correio…
Mirou-se ao espelho, meio ensonada. As boxers vermelhas e o top branco não estavam lá. O seu corpo tinha desaparecido. Só revia a imagem dele. “Meu Deus!” Pensou. “Ele tomou mesmo conta de mim e dos meus domínios”.
Conseguiu finalmente relaxar ao som de Sérgio Godinho com “Às vezes o Amor”, imersa na espuma doce e alva de um banho de imersão. E se não resultasse? Restava-lhe refugiar-se na sua caixa de mímica imaginária, sem palavras. Saiu da banheira e envolveu-se no turco azulão. Ainda precisava de um selo e tinha de descobrir um marco do correio.
Sim. Era apenas uma carta de amor. Tão ridícula como qualquer outra. Porém, será que hoje ainda alguém se atreve a escrever?..