quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Enamoramento e Entrega...

"Canção do Mar"

Dulce Pontes

Gosto de passear os olhos pelo oceano e os seus segredos
banhar-me em imaginação e sorrir por dentro
Desfrutar do rebentamento de cada onda
em flocos de espuma branca
Enquanto fecho os olhos, procuro suspender os pensamentos
escuto apenas o esvoaçar das gaivotas
E sinto a água fria nos pés nus
Lentamente, caminho ao encontro de conchas e búzios
Esqueço-me de mim…

A semana já vai no fim. Desejo-vos que termine da melhor forma, e que o fim-de-semana valha a pena. Deixo uma imagem do Zorro, que não é um rafeiro qualquer. É único para quem o ama. Faz-me bem quando o revejo, é uma excelente terapia. Acariciar-lhe o pêlo, dar-lhe os mimos de que tanto gosta (quem resiste a ser mimado?). Os animais fazem vir ao de cima o melhor de cada pessoa!
Fica também aqui a Poesia do Grande Mia Couto.
Beijos, abraços e mil sorrisos ternos :)))

"Confidência"

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com suavidade
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos


No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome

Mia Couto
de "Raiz de Orvalho e outros Poemas"

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Alguém viu uma Estrela Cadente?

"Cavalo à Solta"

Fernando Tordo (Ary dos Santos)



De repente, as estrelas desapareceram do meu céu.
Sinto a falta da sua luz e do brilho, ao anoitecer,
Não é possível comunicarmos, porque desconheço a linguagem delas
Se alguém vir por aí uma estrela cadente, por favor, avise-me...
Tenho um desejo guardado, à espera de se concretizar.
Prometo que o vou pedir devagarinho, em voz baixa e doce.
Não quero acordar a Lua...

Um fim-de-semana cheio de calor humano para todos os que me visitam.
Fiquem bem. Mil sorrisos :)
Depois da voz e da expressão poética de Fernando Tordo, fica um Poema de José Luís Peixoto. Sentimo-nos tão pequeninos perante esta grandiosidade, deixa-nos mudos!

"A Criança em Ruínas"
Um dia quando a ternura for a única regra da manhã

Um dia,
quando a ternura for a unica regra da manhã
acordarei entre os teus braços.
A tua pele será talvez demasiado bela.
e a luz compreenderá a impossivel compreensão do amor.
Um dia,
quando a chuva secar na memória,
quando o inverno for tão distante
quando o frio responder devagar com a voz arrastada dum velho,
estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela.
Sim, cantarão pássaros, haverá flores,
mas nada disso será culpa minha,
porque eu acordarei nos teus braços e não direi uma palavra,
nem o princípio duma palavra,
para não estragar a perfeição da felicidade


José Luís Peixoto

domingo, 12 de outubro de 2008

À procura do arco-íris...

"Je te Souhaite"

Natasha Saint-Pier

No meu barco imaginário
navego sem rumo certo
Tonta, as ideias baralhadas
só não me quero perder de mim
Entregue a ventos, chuva e maresia
a neblina esconde a realidade
Ajudem-me a chegar ao cais…

No meio da turbulência reencontrei a harmonia, o Amor e a intensidade através da escrita desta Poetisa. Deixo-vos com ela. Um "mimo" para todos vocês.

A tua pele descalça

Veio uma onda. A varrer o meu sono.
Caminhava nele como caminho na areia.
Nada me une ou divide. Nada me retém.
Sentas-te onde me sento no teu colo
e peço sempre a mesma história. A tua voz
cria as memórias que hei-de ter . Por agora
caminho ao longo das gaivotas e grito como elas
quando a maré baixa. Às vezes apoio-me num rochedo
para dizer “casa” e logo desmorono. Sigo descalça
como tu para dizer “seguimos”. Mas são apenas sons
sob o sol de Maio. Murmúrios do que não serei.
Sempre tive problemas com o verbo ser. Faço
e desfaço as malas, entro e saio das gavetas.
Pausa na camisa que vestiste da última vez.
Uma vontade de a amarrotar, desapertar os botões
e sentir lá dentro a tua pele cá fora.
Tudo isto é tão verdade como podem ser os botões
de uma camisa escrita. Confesso que não pensei na cor,
ou se era às riscas. Agora acho que podia ser a de quadrados.
Em qualquer delas a tua pele entra na minha.



Rosa Alice Branco